Fonte: O Globo
RIO – Pequenas reduções calóricas não promovem emagrecimento significativo a longo prazo. Metas ambiciosas funcionam melhor que alvos modestos no processo de perda de peso. Sexo queima no máximo 21 calorias. Sim, é verdade. Um artigo da “New England Journal of Medicine”, publicado em 31 de janeiro, pôs abaixo sete mitos sobre a obesidade, reunidos na mídia e na literatura científica. Crenças identificadas, os pesquisadores partiram à procura de estudos randomizados para comprovar as teses.Lá no fim do artigo, no entanto, os pesquisadores descrevem seus conflitos de interesses, e aí descobre-se que vários deles receberam pagamento, de alguma forma, de gigantes da indústria alimentícia, como McDonald’s, Kraft Foods, Coca-cola e PepsiCo, entre outros — o que levantou a desconfiança dos médicos.
— Esta é uma prática comum, mas é preciso ter uma análise crítica sobre alguns pontos do estudo — diz a endocrinologista Isabela Bussade, professora de pós-graduação da PUC-Rio e integrante do grupo de pesquisa clínica do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia (Iede).
No Brasil, uma em cada três pessoas quer emagrecer ou manter o peso, segundo ela, e o que mais mudou em 30 anos foram as estratégias da indústria de alimentos, que oferece a todo tempo, de maneira implacável, produtos altamente palatáveis.
— A relação é tensa. Quem come de tudo e não engorda, de fato come de tudo, em quantidades muito pequenas — diz a médica.
Dessa discussão, ela destaca que os tratamentos devem ser individualizados, já que o metabolismo pode ser completamente diferente em duas pessoas com o mesmo peso.
— Quem emagrece dez vezes ao longo da vida tem uma taxa metabólica diferente de quem nunca emagreceu, porque ao eliminar 10 kg, perde-se 8 kg de gordura e 2 kg de músculo, mas, ao recuperar o peso, se recupera só gordura — explica. — Um atleta com Índice de Massa Corporal (IMC) 30 tem 15% de gordura, enquanto uma pessoa sedentária com o mesmo IMC tem 40% de gordura, por exemplo.
A médica Vivian Ellinger, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) do Rio, diz que em 1970, eram 16 os artigos sobre tratamento de obesidade na Publimed, banco de artigos científicos; no ano 2000, eram 138; e em 2010, 487.
— A obesidade é um problema recente, há muita desinformação. As pessoas leem no rótulo as palavras light, zero, diet e compram, sem ler a composição nutricional — critica.
No consultório do endocrinologista Henrique Suplicy, professor da Universidade Federal do Paraná, os pacientes em tratamento se pesam toda semana, um dos mitos derrubados pelo artigo.
— É um freio psicológico para o paciente, e 99% vão, mesmo os mais ocupados — diz.
O cálculo que ele ensina aos pacientes é que cada quilo perdido deve ser mantido por um mês. Perdeu 10 kg, mantém por 10 meses.
— Comer bem tem a ver com qualidade. É possível comer pouco, ficar saciado e continuar magro.
Os 7 mitos de um polêmico artigo sobre obesidade
1. Pequenas mudanças na ingestão calórica ou no gasto energético produzem grande perda de peso mantida a longo prazo
A teoria por trás desse mito está na regra das 3.500 calorias, que prega que a redução dessa quantidade de energia na dieta (ou aumento de gasto calórico equivalente) é igual a uma perda de 450 g de peso corporal. Desta forma, uma pessoa que aumenta o gasto energético diário em 100 calorias caminhando 1,6 km por dia, por exemplo, perderia mais de 22,7 kg em cinco anos. Na verdade a perda real de peso neste processo é de apenas 4,5 kg, porque as mudanças na massa corporal alteram a necessidade energética do organismo.
2. Estabelecer metas realistas para perda de peso é importante para evitar a frustração
A hipótese é razoável, mas os estudos científicos mostram que metas ambiciosas estão relacionadas a resultados melhores de emagrecimento.
3. Emagrecimento rápido e acentuado está associado a resultados ruins a longo prazo, como voltar a engordar
Em estudos clínicos, a perda de peso rápida tem sido associada à manutenção do peso menor por mais tempo. Na comparação entre dois grupos seguindo uma dieta de 800 a 1.200 calorias por menos de um ano e por mais de um ano, os que emagreceram rapidamente perderam 16,1% de peso corporal e os demais, 9,7%. Não está claro por que alguns obesos emagrecem mais rapidamente que outros, mas a recomendação de perder peso devagar pode influenciar o sucesso do tratamento.
4. É importante ser avaliado periodicamente durante um programa de emagrecimento
Cinco testes com 3.910 participantes durante nove meses avaliaram as mudanças na dieta periodicamente e mostraram uma perda média de menos de 1 kg, mas nenhum benefício ligado especificamente à vigilância. A explicação dos autores do artigo é simples: pessoas que entram voluntariamente em programas de emagrecimento se dispõem a aderir ao comportamento proposto para a perda de peso.
5. Aulas de Educação Física nas escolas reduzem ou evitam a obesidade infantil
Três estudos diferentes mostram que os efeitos das aulas no Índice de Massa Corporal (IMC) das crianças são inconsistentes e duas análises mostram que os exercícios nas escolas não têm a combinação eficaz de frequência, intensidade e duração para ter efeito na redução do IMC ou na prevalência de obesidade.
6. Amamentação protege contra a obesidade
Esta diretriz da OMS, quando testada em um estudo com 13 mil crianças acompanhadas por mais de seis anos, não foi comprovada, embora a amamentação tenha diversos benefícios para a mãe e para o bebê e não deva ser deixada de lado.
7. Atividade sexual queima entre 100 e 300 calorias
Um homem de 70 kg gasta cerca de 3,5 calorias por minuto nas fases de excitação e orgasmo, o mesmo gasto energético obtido em uma caminhada leve. Como uma relação sexual dura em média 6 minutos, o total gasto é de aproximadamente 21 calorias — menos que uma maçã! Se este homem estivesse assistindo a um jogo de futebol na TV teria gasto 7 calorias.